quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Reorganização e organização na saúde ainda "assusta" transmontanos

A população sabe que depois de instalada a anunciada rede de emergência pré-hospitalar, o atendimento nocturno nos centros de saúde acaba. A decisão está tomada mas ainda há quem insista na necessidade de manter no distrito o regime de excepção, com um médico de prevenção que possa responder aos casos de doença aguda.Dentro de alguns meses, depois de serem colocadas duas ambulâncias de Suporte Intermédio de Vida (SIV) e um helicóptero no distrito, vai acabar o atendimento nocturno e aos fins-de-semana nos Centros de Saúde de Bragança. Devido às distâncias que separam os concelhos e à falta de uma rede de emergência pré-hospitalar, o ministro da Saúde criou um regime de excepção transitório no distrito, assegurando o atendimento em cada um dos concelhos com um médico em prevenção. As mudanças correram bem, as demoras dos clínicos não ultrapassam os sete minutos até porque uma boa parte dos médicos acaba por se manter em presença física nos serviços de atendimento. É este regime de excepção que utentes, médicos e autarcas querem que se mantenha mesmo depois de ser criada a rede de emergência pré-hospitalar. “Isto é uma injustiça, deixarem-nos aqui completamente desprotegidos, então se tivermos uma dor à noite temos de ir a Bragança”, afirmou com indignação Carlos Ferreira, um utente de Algoso, concelho de Vimioso, já a contar com viagens superiores a 40 minutos se precisar ser visto por um médico. João Frias, de Vimioso, questiona a política incompreensível dos governantes do país: “Antes tínhamos um centro de Saúde velho, tínhamos urgências, internamento, tudo, agora com um edifício novo, tiram-nos tudo”, dizia enfurecido. “Aqui os nossos vizinhos em Espanha se tivessem um centro de saúde destes faziam maravilhas”, acrescentou. Narciso da Veiga, residente em Caçarelhos, considera “dramático”, o encerramento de “urgências” nos centros de saúde: “E depois ainda dizem que querem combater a desertificação, assim ninguém pode ficar aqui, tiram-nos tudo até os serviços básicos”, reagiu.E quem conhece bem esta “agonia” dos utentes são os médicos de família, preocupados com os muitos casos que, não sendo classificados como “urgências”, são situações preocupantes que exigem um atendimento rápido e próximo. “Até concordo que as urgências sejam de imediato encaminhadas para os hospitais, mas o problema são as doenças agudas, que resposta é que vamos dar a uma doente que à noite tenha uma crise renal ou a uma criança como uma crise febril”, questionou Marcelino Marques da Silva, director do Centro de Saúde de Vila Flor. Em finais de Abril do ano passado os autarcas do distrito acabaram por assinar um protocolo com a Administração Regional de Saúde do Norte, onde constava a decisão de acabar com o atendimento à noite aos fins-de-semana, depois de criada a rede de emergência. O governador civil, Jorge Gomes, reiteradamente explica que esse atendimento só vai acabar quando a eficácia dos novos meios estiver comprovada no terreno. Ora, Américo Pereira, presidente da Câmara de Vinhais, acredita que o próprio sistema vai demonstrar a necessidade de manutenção de um médico de prevenção em cada um dos centros de saúde: “Faz todo o sentido e por isso acredito que é assim que se vai manter no futuro”, afirmou.As duas SIV devem chegar à região até finais de Março, o helicóptero só em meados do ano. Uma das ambulâncias vai ficar estacionada em Miranda do Douro, outra em “Torre de Moncorvo durante o dia e em Freixo de Espada à Cinta à noite”, revelou José Santos, presidente da Câmara de Freixo. O helicóptero vai ficar em Macedo de Cavaleiros. Entretanto vão ser criadas duas Unidades Básicas de Urgência, que terão em permanência, dois médicos ao serviço, uma em Mogadouro outra em Macedo de Cavaleiros. Berta Nunes, coordenadora da Sub-região de Saúde de Bragança, adiantou que “está tudo” em preparação. Nesta altura em Mogadouro estão em fase de criação todas as condições necessárias: “Vamos ter radiologia em permanência, estamos a instalar meios para a realização de análises, a reforçar as equipas de enfermagem, etc”. A maior dificuldade assenta no recrutamento de mais médicos dado que os sete clínicos que trabalham em Mogadouro não são suficientes para garantir o atendimento permanente. “Temos de nos socorrer de médicos de outros concelhos”, disse. A responsável disse ainda à Voz do Nordeste que na área da Telemedicina já foi feito um “upgrade” da largura de banda para permitir o perfeito funcionamento do sistema. Por exemplo na teleradiologia, os ficheiros transmitidos pela Internet eram bastante pesados o que tornava o sistema lento e inoperacional. “Com o aumento da largura de banda acreditamos que já não existem razões para que as coisas não possam funcionar em pleno”, explicou.


Atendimento nocturno nos centros de saúde aumentou

No último ano, mesmo com um médico nos centros de saúde apenas de prevenção, o número de atendimentos entre as 00h00 e as 08h00 até registou um ligeiro aumento. Tomámos como referencia o mês de Dezembro. Em termos globais, em 2006, a média de atendimentos foi de 1,3 e em 2007 de 1,4. No período entre as 20h00 e as 24h00 a procura foi maior: em 2006 a média foi de 4 utentes por noite, em 2007 passou para 4,4. A procura continua a ser pequena mas a cada um destes números estatísticos corresponde um ser humano que merece tanto respeito e cuidado como quem vive no litoral do país.



Linha Saúde 24 pouco utilizada

Apesar de todas as campanhas nacionais de divulgação da linha Saúde 24, muitos utentes transmontanos, quando questionados sobre a sua utilização ainda respondem com outra pergunta: “O que é isso?” O numero grátis 808 24 24 24, de aconselhamento médico, não tem tido grande procura na região, aliás, a própria coordenadora da Sub-Região de Saúde confirma que Bragança é o distrito onde se verifica menor procura. Marcelino Marques da Silva, médico de família, não estranha esta realidade, compreendendo “as dificuldades de comunicação” de muitas pessoas idosas, a iliteracia e até a atrapalhação natural de quem está doente e precisa de ajuda, sobretudo por telefone. Esta linha serve para aconselhamento e encaminhamento das mais variadas situações. Do lado de lá, técnicos especializados fazem uma espécie de “avaliação” do problema aconselhando o utente em relação aos procedimentos a adoptar ou até mesmo encaminhando o doente para as urgências, se for caso disso.

Escrito por: Ana Fragoso in A voz do Nordeste, 24-01-2008

Sem comentários: